Capa - Sarau

Capa - Sarau
Sarau Equinócio de outono

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pingo

Quem está na chuva,
é pra se molhar.

É pingo de raça, é pingo de ideia.
É pingo de tudo, é pingo de nada.
É pingo de conceito, é pingo na cara.
É pingo do que somos.

Pinga no temporal do vendaval
e hidrata todo mal.

É tempo de falar, é tempo de amar.
É tempo de gritar, é tempo de não escutar.
É tempo de revelar o segredo encharcado.
É tempo do que vivemos.

Quem está no mar
vai se afogar.

E a onda é sem piedade, é sem conceito justo,
onda de água, onda de força,
onda que mata, onda viva.
É a onda que nos banha.

É pingo de mim, é gota fraca.
É pingo de chuva, é gota triste.
É pingo humano, é gota da raça.
É pingo da vida.

Vou me afogar na imaginação,
na intolerância,
na hipocrisia,
na intolerância sem noção.
Vou me afogar nas ondas da sociedade.

Vou nadar em contra os desejos,
contra o vento
que lamento
contra os toques eternos
que a chuva ousa nos dedilhar.

É pingo de atrevimento, pingo de raça.
É pingo social, é pingo do canto.
É pingo do amém, é pingo de nada.
É pingo de se afogar.

É pingo da tempestade a enfrentar
e sair intacto.
É o pingo da chuva.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O que é triste

Triste é uma criança ser estuprada.
Triste é uma família ter fome diariamente.
Triste é ser o alvo do preconceito.
Triste é a mulher ser violentada pelo acompanhante.
Triste é um amigo sair para comprar algo no mercado e não voltar,
porque foi assassinado por ser gay.
Triste é os negros serem tratados como inferiores.
Triste é os mendigos a margem da sociedade não serem enxergados pelos pedestres.
Triste é o preconceito horrendo batendo na cara de todos e de tudo.
Triste é as pessoas serem excluídas do direito de se ter uma família.
Triste é sofrer por tentar viver e faltar oportunidades para os pais que buscam cuidar dos filhos.
Triste é o filho morrer na barriga da mãe.
Triste é as chacinas diárias por tentarem viver como todos.
Triste é todas as coisas tristes.

Nem se toda tristeza pousar em mim
meu corpo será derrubado, fraquejado, humilhado, inferiorizado
porque a minha vida humana é alegre;
na minha face acontece uma luta para sempre
é em tentar ter o sorriso de homem, mulher, idoso e criança.
Pois sou humano.

sábado, 10 de julho de 2010

O amor

Ele caminha no silêncio
em passos leves e carinhosos
e nos acorrenta em ouro nobre.

Nos faz vítimas de sua existência.
Nos dar o que desejamos
e seduz sem um longo discurso.

Nos aperta em suas mãos macias
e bate na face,
arranha a face, a costa, as coxas
e o coração ensanguentado.

Espanca todo o corpo
em performance inédita, inesquecível.
Faz dos órgãos a maçã a ser comida
dilacerando sem piedade.

Escraviza o ego
e aperta bem a cintura
e nos beija no atrevimento usurpador.
Afaga na dose certa
e não há erro na solução final.

Ele nos pare e nos mata
em correntes de desejos e felicidade.

Nix

A noite caminha misteriosa.
O que será que ela fez?
Lençóis escuros a carrega
escondendo-lhe a face negra.
Ela traz alguns astros.
Suas ornamentações em alto céu.
Em que, que eles a ajudaram,
que estão sempre juntos?

A noite é início das trevas e a luz, a penumbra.
É escura e há alguns brilhos,
os olhos que nos olham lá no alto.
Chegando devagar, sem rumor.
Sua lua ilumina o cemitério.
Céu imóvel cheio de segredos
e sonolências eternas.
Silêncios reinantes a cantar.
Que segredos são esses?
Por que vive neste silêncio
escondendo algo dos humanos?

Neste segredo escuro
há o nostálgico e contente romance.
Ela em tantos segredos
é adorada por nós.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pianista

Conhece as 88 teclas do instrumento perfeito.
Traduz cada som em um poema da vida.
Exala a tristeza da solidão de um quarto vazio.
Recria cada verso de amor
que são protegidos por uma força estranha.
Toca a dor que não ousam tocar
com tanta delicadeza e pressão certa.
Faz o pecado se despir e mais tarde sumir.
Transforma a paixão em amor
ressuscitando o amor de Adão e Eva.
Projeta no céu uma aurora em plena noite lunar.
Faz de um rio seco brotar águas límpidas.
Faz nascer dentro de uma casa um céu azul.
Torna-se uma matéria natural sendo apenas uma homem e um piano.
Faz nos olhos um brilho
como uma lágrima de Maria no calvário.
Quando toca perto de alguma roseira
logo brota rosas magníficas.
O que será este pianista?
Será um anjo?
É tão semelhante aos seres humanos.
Todos são humanos.
São humanos como um pouco de Beethoven, Mozart, Amy, Jerry, Elton.
Os pianistas tocam com amor, apalpam a dor.
Encostam na felicidade ocultando a tristeza.
Projetam a criação do homem.
Fazem da vida um sorriso,
um sorriso sonoro que voa no ar.
Fazem dos seus dedos uma magia.
Eles são mágicos na música.
Este talento que parte do relento,
cura as feridas das almas.
Deixam o amor os possuir para tocar o perfeito
em uma perfeita dança dos dedos.

O lavrador

Na batida da enxada o lavrador tenta plantar,
plantar um ser em extinção,
tenta garantir algum alimento para o amanhã
alimentando a esperança de que nasça.
Bate a enxada no solo seco,
o tempo quente.
Pisa na terra que já deu mais frutos,
essa terra que nos sustenta,
nos deixa em pés.
Tudo isso foi entregue para os homens,
entre outros animais que protegem a natureza
e o homem que pensa, desprotege.
Foi dado uma flora rica para cultivar,
isso o lavrador tenta,
cultiva até a última semente
e cultiva até a última espécie.
Bate a enxada no solo arenoso,
mas nada ali nascerá mais,
não há uma gota de água que uma planta possa sobreviver,
que uma semente possa germinar
como não há uma situação que faça a esperança de um lavrador acabar.
Entre tantos outros solos que frutificaram estão secando.
Com outras batidas de enxadas,
o lavrador tentará plantar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sereia noturna

Fim de tarde,
o sol se foi
e a chuva começou a agir.
As nuvens cinzas enfeitam o céu.
Logo aparece as estrelas pouco a pouco.
Com a lua o toque final.
Assim, anunciou que a noite chegou, o frio chegou.
Todos os enfeites para uma beleza.
É bela por natureza.
É obscura como a cinza.
Está sobre as montanhas, admirando a noite.
Seu turno preferido.

Ela se enxerga nos céus.
Acompanha cada estrela.
Vigia vidas que gosta.
Romantiza a noite.
Desperta desejos teus.
Sempre estará lá.
No alto onde gosta, penteia-se com o pente.
Que sua beleza sempre esteja na forma certa.
Sem invadir o espaço de algum astro, incerta.

Sereia da noite,
paralisando os homens a te olhar.
És sereia das histórias por sua beleza,
mas sua beleza é grandiosa.
Tu és real.
Presenteia os olhos com sua imagem, no escuro.
Luzes o céu de infinitas trevas.
És a estrela de todas noites.
Alegria de lábios ao sorrir.
És o sonho de algum moribundo.

Canta todas as noites, com sua voz oceânica.
Logo faz todos adormecerem.

És a junção de adjetivos.
És egrégia, bela, sonhada.
És formosa, luzida.
És obscura entre os cativos.

Sereia noturna, paralisadora de olhos que sonham com romances.
Na noite és aurora da morte, da vida e romances.

És o sonho de algum moribundo,
em seu próprio romance.

domingo, 4 de julho de 2010

O cais secreto

O vento gemeu
sobre a terra mãe
inaugurando a inocência
do sacrifício humano.

A rosa cantou
o amor da lua
luzido em sua luz
da fúnebre cor.

Clamas tolerância no vago vento,
na negra rosa secreta
guardada no cais
da consciência humana.

Sol, queimador em laços de calor
vai queimando até queimar
a neurose da cabeça
daquele homem.

Dueto do vento e da rosa
repousa o corpo cansado
na inocente pluma
do mundo secreto do amor.

A canção cai no cais
do segredo oculto pela língua.
O vento propaga os ecos
da inocente pluma e canto