Capa - Sarau

Capa - Sarau
Sarau Equinócio de outono

domingo, 26 de junho de 2011

Peregrino

O sândalo me embalsamou nos encontros e despedidas
perante todos movimentos as vezes tristes, felizes ou lacrimosos.
Eu fui peregrino incerto da vida
e me tornei a carcaça que hora aparenta ser bom
mas que já se assemelhou a ruim.
O espaçoso tempo foi comendo os fatos e apresentou teses
teses que li, teses que me arranharam, me feriram e que me fez gozar.
Moendo os dias fui  seguindo o louco relógio.
Fui sonhador, sonhei ser amante, sonhei ser poeta.
Mas nunca soube quando estava sóbrio, quando não sonhava!
Entre cantos que me raptaram a todos os mundos que conheci
fui instrumento deles em ondas magníficas,
em notas sinfônicas minha alma compôs suas canções e poemas.
O que sou? Não sei!
Mas fui peregrino incerto do amor e da vida.
E da morte? Não sei!
Não sei se sonho ou se vivo!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Casa de aborto

O sol declinara.
Na casa imunda
onde cobras se arrastam
onde berram mulheres que sofrem
onde choram vidas que não viveram.
Vagando entre paredes lisas e humildes
paredes que têm gente enterrada por dentro.
Ar de resignação e pecado.
Ar de morte.
Ar de recusa.
Mãos sobre o peito
posição dos mortos,
mãos tão pequenas e frágeis
que não levantam nem uma faca
para lutar pelo direito de viver.
A espada desta batalha encontra-se em um único ser
que decide interromper uma vida
ou semear este fruto.
A decisão é concluída antes de atravessar a porta
no outro lado o próximo interrupção,
o próximo berro, o próximo choro,
a próxima cobra a rastejar
e próximo enterro entre paredes.
Serpente símbolo da morte
rasteja sobre a mulher que se nega mãe.
O sol morrera.



Este poema foi inspirado na história de Marques Rebelo em a "A estrela sobe"

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Caça

Passamos a vida tentando nos conhecer.
Nos caçando num labirinto escuro que as paredes nos reprime.
Caçando a alma numa selva noturna
que a lua parece um espelho casual.
Nos encontrar tem sido tão difícil.
Talvez morreremos sem nos conhecer.

Padeceremos nas paredes da consciência,
do corpo em busca do saber.
Busca crepuscular pela essência da alma.
Assim, minha alma que tenta ser tão humana
deseja conhecer tantas outras almas,
talvez humanas.

Passamos em mútuos saberes.
Mútuos tempos e tão longe de nós mesmos.
Tentamos aprender com a dor, a morte, o amor
e sempre somos aprendizes
entre o colo e seios até a cruz e espada.
Estamos anos luz caçando, caçando sempre por nós.
Talvez faleceremos sem nos achar.

domingo, 5 de junho de 2011

Feito eu

Andam os gados e os pastores na terra
e entre os montes do interior tecem o trabalho.
Guiam a prole principio de vida
das belas vacas balançando as tetas que tecem o leite,
a nuvem líquida que bebemos.
Feito pássaros vão parecendo não ter direção,
mas, eles bem sabem o objetivo desta migração.
Há migrações que acontecem e é a real despedida do encontro do olhar e daquele movimento
como os micos que migraram a anos e não voltaram,
mas, o gado, os pássaros continuam neste desfile em pleno palco de vida
com as tetas, chifres, asas, canto dos bicos
na estréia da relva agradável da manhã.
Feito os passos incertos de várias estradas
interroga fatos do céu e terra,
interroga a travessia do clima de interior.
Feito Jesus em lições como as tradições do interior,
lecionam artes humanas do teatro.
Caminha nas estradas de terra escarlate
profetizando tudo o que há de bom e ruim.
O homem que guia ou o guia dos rebanhos e passarada
são protagonista da novela.
Feito eu, ele pecou outra vez
talvez pecou sabendo que era pecado
ou pecou na tentativa dos acertos
se arriscando em novos caminhos de terra,
qual seria o pecado mesmo?

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sinônimo

Eu queria ter um amor,
eu sei que tudo é um tempo, um vendaval.
Uma ação a ser feita como uma chama.

Fogo queimador, feitor das cinzas.
Queima a carne do homem em chama viva
a chama que suspende sobre os móveis e sob o cobertor!
Queime adornos, sentidos e conflitos!

Chama envolvente no coração
arde na inapetente paixão o vago desta carne pulsante
arde em todo ego e espanta o frio dos montes.
Urente na chama do júbilo aquece a alma fantasmagórica.

Aquecimento, rompimento da virgindade que existiu algum dia.
Rompimento, aquecimento da virgindade dos novos dias.
Ó fogo seja os pelos do corpo e aquece eternamente este homem!
Fogo sinônimo de amor, fonema que transpira na carne
transpire em constante suor de júbilo e carinhos!

Transpirando - homem esguio, adorno da pintura
segue o caminho transpirando, desejando, gozando.
Gozando, ó sobre o sexo e a condição que finda.
sempre gozando, queimando, envolvendo o tempo com o corpo quente.