Lavo as mãos e começo
a preparar um banquete
Lavo o arroz, seleciono o feijão e escolho as panelas
Ando pelo jardim tão florido com gotas de orvalho
Cheiro os perfumes rosais e sinto meu próprio cheiro inébrio
Teu sândalo longe foge por entre becos da cidade
Chego na horta e escolho o que me fará bem hoje
Seleciono cebolinha, salsinha, tomate cereja, alface e
hortelã
Descasco alhos e faço um típico da cozinha, alho e sal
Temperos para o frio e para o banquete que ouso fazer
Ponho tudo na bancada como enfeite
Estas feições que inspira a cozinha
O hortelã ao lado do abacaxi para fundir um suco
Cebolinha, tomate cereja e salsinha numa vasilha para
picar e decorar o prato
O arroz escorreu e o preparo para que seus grãos fiquem
soltos como os pensamentos do poeta
O feijão cozinha sobre a pressão da atmosfera,
Cozinhado, o refogo com alho e sal e vejo naquele vapor a
neblina da manhã de inverno
Preparo uma salada jardim que a alface é grama, a cenoura
é flores, os tomates são rosas e brócolis são árvores
Pico tomate para um molho e este molho parece sangue que
uma lança me sangrou
O molho para uma massa de ovos como a massa do meu corpo físico, o molho escorre entre suas
ondas
O sangue deslizou nos meus relevos no arco da noite
Preparo a mesa com
dois pratos e taças
Abro o vinho que guardava para o dia que voltasse a
cozinhar e o pouso sobre a mesa
Pouso o azeite próximo à travessa de salada
Tomo um banho para tirar o cheiro de cozinha de óleo de
soja
E no fim das águas que retiram a espuma do corpo, passo óleo de corpo para
ficar com a pele cheirosa e lubrificada numa inspiradora manhã
Visto minha roupa e ouço a porta abrindo, seco pouco meus
cabelos
Logo sirvo os pratos e taças e falo “Pode vir almoçar”
Minha voz ecoa, o cheiro de vinho exala e tomo um gole e
este gole ecoa em mim
Digo de novo “Pode vir comer” e minha voz ecoa
Só nesta brisa de ecos
lembro que você não viria, assim como nunca veio.