Capa - Sarau

Capa - Sarau
Sarau Equinócio de outono

sábado, 24 de novembro de 2012

Era


Quando o sol brilhava era tão bom

Te confessava infâmias e não pecados
Te tocava com a alma e não com as mãos
Te envolvia com meu sangue e não com meus braços
Te falava dos sonhos e não do futuro presente

Era o despir do dia que me caminhava lentamente e ansioso
Eram as harpas tocando os erros que foram cometidos
Eram as trombetas do céu nos chamando para deitar em plumas
Era sua voz que me dizia o que amava escutar

Quando a lua brilhava sobre nossos corpos

Te despia com o olhar em magnitude
Te penetrava como único laço e nem a morte impediria
Te suspirava na intenção de elevar seu corpo
Te elevava no ritmo das sensações que nos orquestravam

Era a espera de colidir nossas cargas
Era a saudade opressiva fortalecendo músculos a caminhar
Era um canto em constantes ressurreições por nós
Era tão bom, eu sei os corpos despidos, os sentimentos nus.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Filho do vento


Hoje deixo o vento me levar pelas ruas
O vento me adota e nos seus braços sou carregado
No colo incerto do tempo
Vou parar no paraíso que o vento me leva
Sou filho do vento hoje na primavera
Já fui filho da lua e do sol
Filho das palavras e do declamar
E eles se ausentaram nas últimas semanas
em que hibernei na ausência de palavra
Interagi ao vento porque ele é sem destino certo
Levou-me no urbano da metrópole e minha alma perambulou
Perambulou para sentir a liberdade humana
O vento é livre e a alma o segue
Esse caminho é a viagem para o bem estar
A paternidade do vento me fez livre para o destino
Ao qual não ouso designar e querer algo especifico
Apenas ser surpreendido pela felicidade e encontros
Assustar com o novo, com a velha ignorância
E admitir a glória do novo conhecimento
A glória da vida superando as desgraças antigas.
Vou ventar por ai, por entre os corpos, por entre as árvores,
Por entre as flores, entre as paginas dos livros e entre as palavras no ar
Ventos acendem a vela do destino
Por caminhar junto às almas para o futuro
É caminho para a chama vital

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cozinha



Lavo as mãos e começo  a preparar um banquete
Lavo o arroz, seleciono o feijão  e escolho as panelas
Ando pelo jardim tão florido com gotas de orvalho
Cheiro os perfumes rosais e sinto meu próprio cheiro inébrio
Teu sândalo longe foge por entre becos da cidade
Chego na horta e escolho o que me fará bem hoje
Seleciono cebolinha, salsinha, tomate cereja, alface e hortelã
Descasco alhos e faço um típico da cozinha, alho e sal
Temperos para o frio e para o banquete que ouso fazer
Ponho tudo na bancada como enfeite
Estas feições que inspira a cozinha
O hortelã ao lado do abacaxi para fundir um suco
Cebolinha, tomate cereja e salsinha numa vasilha para picar e decorar o prato
O arroz escorreu e o preparo para que seus grãos fiquem soltos como os pensamentos do poeta
O feijão cozinha sobre a pressão da atmosfera,
Cozinhado, o refogo com alho e sal e vejo naquele vapor a neblina da manhã de inverno
Preparo uma salada jardim que a alface é grama, a cenoura é flores, os tomates são rosas e brócolis são árvores
Pico tomate para um molho e este molho parece sangue que uma lança me sangrou
O molho para uma massa de ovos como a massa do meu  corpo físico, o molho escorre entre suas ondas
O sangue deslizou nos meus relevos no arco da noite
Preparo  a mesa com dois pratos e taças
Abro o vinho que guardava para o dia que voltasse a cozinhar e o pouso sobre a mesa
Pouso o azeite próximo à travessa de salada
Tomo um banho para tirar o cheiro de cozinha de óleo de soja
E no fim das águas que retiram  a espuma do corpo, passo óleo de corpo para ficar com a pele cheirosa e lubrificada numa inspiradora manhã
Visto minha roupa e ouço a porta abrindo, seco pouco meus cabelos
Logo sirvo os pratos e taças e falo “Pode vir almoçar”
Minha voz ecoa, o cheiro de vinho exala e tomo um gole e este gole ecoa em  mim
Digo de novo “Pode vir comer” e minha voz ecoa
Só nesta brisa de ecos  lembro que você não viria, assim como nunca veio.