Entre letras e retalhos
as palavras costuram minha
carne
Costura meu tecido
epitelial ,
minha pele fria
Meus olhos esperançosos ao
infinito
Entre letras e retalhos
as palavras ditas
costuraram a noite
sem mais noção de onde
estava a lua
A lua que se perdeu entre as árvores ao redor
Entre letras e retalhos
mulheres ajeitam as saias
e homens tocam violão
E fazem do sarau letras e retalhos
Letras e retalhos de uma
vida
Letras e retalhos de
poesia
Letras e retalhos de
música
Letras e retalhos de dança
Letras e retalhos
instrumentos, órgãos, partituras vitais
Entre letras e retalhos o
útero do sarau ,
a fecunda apresentação da noite momentânea
Entre letras e retalhos
o que é entre letras e
retalhos?
Entre mim e o ouvinte
Entre o escritor e o
leitor
Entre a dançarina e o
admirador
Entre letras e retalhos é
o chão e a grama
A vela e a chama
O aquário e a água
O papel e o ar
Entre letras e retalhos
artistas e humanos
Artistas humanos
Artistas se evoluem
enquanto humanos
Entre letras e retalhos remendadas
palavras
Remendadas roupas
Remendados tempos que a
arte naufraga
entre séculos e séculos,
dias, minutos, segundos
Que as letras pronunciam,
exaltaram o retalho da
minha garganta
de dizer para o inexistente a figura de entre
letras e retalhos
Sobre o tapete branco,
o vinho que se derramou
sobre ele
O suor que se misturou ao
vinho
O gozo de escrever entre a
pele, o suor, a caneta
Entre letras e retalhos
nada mais do que gozar sobre a noite a arte de
ser um artista
Entre letras e retalhos é
ouvir a infinita arte
É assistir a outros
artistas
É sentir a clemência da
arte nesse último sarau.
*Poema inspirado no Sarau Equinócio de Outono do grupo Entre letras e retalhos