Capa - Sarau

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Sarau Equinócio de outono

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Foco


Pense na primavera exata
Nas idades das flores murchas
Catalisadas dentro da vitrine ruga
Canto da terra onde sou verme

Rastejo como serpentes ambiciosas
Olhar focado na rosa vermelha
Desprendendo-me em sangue, cálida ferida
Dois segundos, sou o gosto de vinho

Foco, foco, atenção, foco!
E se não invoco, eu sou ateu?
Hoje todos têm que invocar, sei lá
Deus, Oxum, Afrodite, Buda, Kardec, Iansã...
Enfim, foco, o perdi.

Serei o rato sujo correndo na vertical
Alimentando da hóstia e das oferendas
Rindo da aristocracia teocentral
Pois então eu prefiro ser banal.

Banal, carnal, tropical com pau
Brasil, eu sou assim o foco desfocado
Têm dias que tenho foco, outros não
Resumir-me a esse poema me basta por hoje.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sempre


Sempre digo, repito e inalo palavras
Numa confusão e nervosismo de dizer
De carrega-las no colo e libertar ao público
Sempre!

O sempre, esse sujeito de locução diária
Ele solta das línguas parecendo eterno
Uma metamorfose dos sonhos mais belos
E em algum segundo, o metal pesado do pesadelo

Esse mero sujeito, sempre arromba meu corpo
Como ponte a meu espírito
Me estende a outra vida inacabada e sem começar,
Nina a eternidade no peso da alma

Amizade, amores, enganos, descobertas
Poesia, o sempre é uma poesia extensa, intensa
É milhares de folhas a ser escritas, detalhadas
Nem todos amigos ou amantes dão conta de duetar tal poema juntos

Sempre desiste-se, sempre se prossegue
Sempre vive, sempre enfarta e eterniza-se
E nem sempre se lembra, nem tudo é eterno
O sujeito sempre morre, na berlinda vai o sempre.