Capa - Sarau

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Sarau Equinócio de outono

sábado, 5 de abril de 2014

Alegria rendida


Rendi minha alegria nesta manhã como pernas abertas implorando liberdade
Desprezei um laço nos lábios revoltos
Desembrulhei calmamente um sorriso e suspeitei de um laço maior;
Uma poesia a encarnar todo o corpo
Como uma encarnação que recebe uma mãe ao parir,
Ao digerir na vagina o fruto do mundo
Aqueles gritos de força, clamadores de grandeza
E ao expelir de si, alguém que será maior do que ela
A esse fruto será o motivo de luta
A mamãe ao parir deve receber uma energia maior que si
Maior que todos seus gozos e tesões já alcançados

Encarnei através da minha mãe em um corte
O bisturi com sede da carne dela
Ali entre sua virilha
Fui cortado, como se fosse um tumor sendo retirado de si
E a partir dali, ela não sentiria peso e nem cansaço
Em dias ela trabalharia novamente, o retorno da rotina
E o corpo estranho que a abrigava seguia amamentando de suas tetas
Sugando leite de suas glândulas mamárias através de sua pele negra e quente

Desfiz um suspiro de quem esperava perfeição para hoje
O substantivo foi maior que a beleza integrada ao corpo
E os vestígios de suspiros e sorrisos que poderiam acontecer pousaram-se no chão
Lá embaixo agem como bactérias querendo procriar
E vão explodir baixinho
Bem baixinho vão explodir como bomba biológica
Vão zunir ar e risos, e em vãs luzes vão manifestar moléstia em um corpo qualquer

Aqui, rebento meus verbos na metamorfose da minha língua
As palavras dão caminho a passagem do mundo
A origem do mundo e da guerra
Nesse túnel de gozos poéticos medro meus versos fragmentados de avessos
Refaço no meu canto mudo de poesia a minha vida
Dizem que recebemos entidades ao sermos poetas
Pois minha alma grita entre meus poros
Como um grito de quem pari,
Dou a luz as palavras e sentidos exatos e inexistentes
E ao rebentar verbos e letras, meus ossos  gotejam fios de luzes
Luminosas partículas como atos mediúnicos que usurparam minha voz
Hoje, sou palavra de brilho opaco
Rebento minha clarividência poética
Nos fios luminosos do meu olhar enxerguei minha alma gotejando a mim
E a encarnação foi interrompida, a poesia acaba aqui!