Capa - Sarau

Capa - Sarau
Sarau Equinócio de outono

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Jardim

Tua rosa vermelha sangrou-me o peito na inapetência da manhã
Rogando um carinho como esmola dos deuses
Em toda sua cor escarlate, cálida e murcha de cansaço
Trazias em teu semblante o adeus e foram meus olhos a tua câmera
Que te filmava, flagrava, capitava, recapitulava teus gestos
Singelos riscos de seus dedos no ar navegados no sol
No meio da tarde te recompunhas, se ajeitava
Acomodava tua cueca, botas e teu óculos escuro
Te vasculhava com meus olhos de caricia, te esperando
Te esperando no futuro nessa mesma cama
Ainda com o gosto do seu suor embriagado na minha saliva
Lambo o restante do gosto do nosso sexo em mim
Teus pelos, as pétalas caídas no meu jardim
Segurava no seu caule como se toda vida de ti estivesse ali
Mas, muito mais do que minha câmera podia alcançar
Eu podia te mapear
Poderia te prender, mas as asas dos pássaros me fascinam e tua liberdade queria assistir
Levanto desses lençóis, derrubo o vinho que bebias e mancho o lençol branco
Apenas coloro desse momento a firme lembrança cinematográfica
Aqui te arquivo e manipulo as palavras a ti
Faço de ti a fragrância sem fim
E sem ti, tento manter a vida do meu jardim.