Capa - Sarau

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Sarau Equinócio de outono

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Pontos inacabados

Quem são essas palavras inacabadas nos seus lábios que insistem em lamber minha carne depois da sua mordida carinhosa
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O que são as palavras não terminadas, as conversas mal acabadas?
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O que são esses términos inacabados de tantas possibilidades dos fim que não chegaram existir?
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Eu me assusto com as vidas dos pontos finais que não tiveram tinta o suficiente para ser escritas
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Olho no fundo da xícara os traços do café habitado ali a cada manhã, no despertar dos nossos olhos em calmo bom dia
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E nesse fundo percebo que os pontos finais foram engolidos em gotas de um amado amargo de café
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E que todas palavras que se expandiram na minha mente em pensamento foi metabolizando o café ingerido por mim para que me manter acordado para suspender os pontos finais que não chegaram a ser escritos, nem pela cor de um café
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Quem é esse que me doma em espanto e espasmo da minha existência cotidiana e corrida de tentar ser apenas um ponto final suspenso?
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Cristais ósseos

Toco as minhas costelas como se fossem cristais frágeis
Mas elas são a fortaleza que asseguram as explosões da minha bomba cardíaca
Protegendo das implosões do meu peito magro
Elas rangem com palavras como placas tectônicas em busca da próxima colisão efetiva e bum
Explosão de palavras que não sei de qual cristal se libertou
Colisões para o esterno que separa as zonas desses cristais fortes
A resistência óssea protege a explosão desse segundo
Todo esse vulcão que vem sendo formado, desde o tempo que a poesia me visitou ao olhar pros olhos castanhos da vida
As vezes passageira, sinto seu cheiro distante de leve e a sinto pouco
E minhas mãos anseiam por sua carne voluptuosa a compartilhar nossas energias
A entender o soneto de suas costelas luminosas, e  relembrar a distância dos degraus da esplêndida e inquietante crença de ser poeta
É revirar o baú da alma e nada achar, teimar em continuar a procura, porque assim acredito que ainda posso ser poeta

A poesia é fingidora e nos faz fingir sermos poetas.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Infante destino

Vejo no céu nublado um infante destino de risos domesticados pelo tempo
E de inacabados êxtases, as finas rugas camuflam meu ser
As sensações delirantes arrancam de mim um grito maldito
Da minha boca consagrada de poesia e rogada de prazer, beijo meu mundo
Beijo meu chão de cascalhos humanos
Afino os risos cristalizados no frio desta tarde
Lambendo os cristais da vida, laminados de surpresas
Viver é sentir o gosto do próprio sangue em sua língua
Neste ato cálido ao degustar uma gota profunda de nós
O ponto escarlate de nossa vida

sábado, 28 de novembro de 2015

Moreno

Moreno, minhas costas despidas anseiam-te
Calafrios se enraízam pela minha pele macia
E tornam-se a ligação entre mim e você
Ouço o som dos teus braços acariciando-me
E logo ouço o som místico dos seus suspiros embalando meu pescoço
Teu corpo e pelos se colidindo ao meu
Suspiros, barba, lábios e carícias te representam agora

Moreno de olhos castanhos em espelho
Me assisto ente a sua clarividência ocular de me encarar
Ao estagnar perante seu rosto e logo beijá-lo
Nessa estância narcisista de nós mesmos a nos igualarmos
Nos acariciamos, nos confrontamos e nos juntamos
É atração de nossas essências quando nossas almas se encaram
E vemos ente nossas máscaras de faces um ao outro

Meu moreno te espero nessa noite
Estou exausto do cotidiano
Que os batuques do teu coração sejam minha canção de ninar hoje
E tua carne meu travesseiro
Seu sorriso meu colchão
E nossa companhia mútua, nosso céu.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Poema de chagas

Abro minhas palavras com todo sangue de mim
Com mais sangue que escorreu em um tronco
E com mais sangue do que o batismo de um feto na barriga
E com mais força que toda dor que o mundo sente

Quando escrevo versos solteiros de alegria
Pode ser raiva transpassando minhas falanges
E pode ser apenas por opção de escrever assim
Pois a alegria é força rente a alma e recito com ela

Faz o que queres sem a alegria de alguma lei
Leciono o presente, modulando meu sorriso
Em cada ângulo um sentimento intruso

Eles não sabem o sentido exato da minha existência
Nada sabem e injetam as leis em veias frias
Em ruas abandonadas e bonecos de passeios.