Capa - Sarau

Capa - Sarau
Sarau Equinócio de outono

sábado, 30 de julho de 2011

Inventar

No espelho casual vejo um poeta.
Ele inventa amigos a o inspirar.
Amigos para defender, para apoiar, para lutar numa luta irreal.
Inventa colegas para questionar para poder inventar amigos mais tarde.
Inventa o amor  e chega a fingir que ama.
Inventa a dor e cicatriza feridas rasgadas pelas suas mãos.
Inventa um leito para descansar tudo o que sua mente inventa.
Ele se inventa, reinventa a cada dia.
Se recicla numa ilusão noturna que seu espelho é sombreado.

Segue a noite pensando e pensando como poeta, como humano.
Ele se inventa para ser feliz.
Ele é feliz na busca deste sentindo de inventar.
Inventar as palavras num sentido dos corpos dos seus poemas.
Inventa ser poeta num drama incansável sobre este palco ente o espelho.
Recicla a comédia e o terror para gerar ação da sua vida em cena.
Ele se inventa antes do amanhecer nas profundezas dos seus sonhos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

FUCK8

Levantam a bandeira da vida.
Que vai começar de novo em novo começo, novo meio.
A multidão se anima, a multidão pede:
Liberdade para legislar este país,
se pede simples corações civis a nos governar.
Se anima que a festa já começou.
As energias dos corpos conspiram ao se desfilarem.
É a festa de pop, fantasias, personagens do dia-a-dia.
Seminus, beijos, convites, olhares.
Diversidade, raças, etnias, sexos.
O carnaval começou nos passos que o arco-íris guia  a multidão.
Vão, que está lindo, PLC122 de novo pedido.
Gays, lésbicas, transexuais, héteros, travestis, bissexuais
e quem mais quiser fazer parte desta festa.
Erguer a voz calorosa e humana junto a este povão pela avenida.
Não é só por este momento vivido
e sim a todos dias virgens que são nos dados para estrear neste palco sem limites.
Viva a Stonewall, lembranças dos que morreram para isso tudo
e dos que desejaram e lutaram por isso.
Hoje é a conquista da relação deste dia.
Viva aos sabores da vida, das uniões, do bem comum,
da alegria de ver esta nação tecer futuro, presente e futuro pretérito.
Vida que és vida em todos peitos, invólucros dos corações.
Continuaremos a trilhar ao fim do ódio.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A puta lembrança

Hoje cedo um anjo me beijou
beijo matutino sem sabor.
Era um anjo sem asas, sem divindade.
Um anjo que ainda se lapida a perfeição.
O anjo que derrubou e cicatrizou meu coração.
Chegou cedo, não o esperava hoje,
mas sim  amanhã no tempo  mais adequado, talvez perfeito.
Era um anjo sem face angélica sem plumas.
Sem sensações no meu rosto.
Era um anjo único, sem presença real,
aliás, mais que real poralisada em mim.
Não era um anjo.
Era a puta lembrança do meu pai.
Ah, como as lembranças imploraram para que fosse seu vulto branco ou negro a me abraçar,
mostrar sua dor em meu corpo.
Não era um anjo,
também era  puta saudade do seu espírito vibrante,
do seu toque e da sinfonia da sua voz.
Lá fora e  aqui dentro está tingida de noite a própria noite em seus tons escuros e frios.


Composto ontem 19/07 , hoje 20/07 são 10 anos sem meu ídolo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Oração do desgraçado

Senhor Deus dos desgraçados,
livrai-me da mesquinharia humana
proteja-me com loucura e amor!
Mesmo pelo difícil caminho do vale
que eu não perca o liame em ti.
Ouça a voz humana que confessa infâmias antes de dormir!

Senhor Deus dos desgraçados,
diga qual o conceito de tanto horror, atrocidades sob o céu!
Senhor que canta entre os céus sua própria canção de ninar,
cante enquanto ornamento minhas infâmias!
Deixe o suave tingir da noite contemplar o final do dia!
Quem não encontra em vós a liberdade simples,
o julgar impiedoso de si mesmo
e o atrevimento dos céus, senhor?
A chuva dos espíritos de futuras graças e presentes desgraças
cai na maternidade e na placenta do dia.

Senhor Deus do desgraçado que sou,
não afaste de mim seu toque suave e agressor
me fira para que meu sangue integre-se em humanidade!
Lapida-me em natureza e pura simpatia da vida!
Senhor dos desgraçados de séculos e séculos
esteja com este ser taciturno e exultado!
Livrai-me da mesquinharia e da solidão do tempo!
Oh, Deus do desgraçado que sou,
escute esta voz humana e sinta este coração vivo!

sábado, 9 de julho de 2011

Vens

Meus versos extintos.
Minhas fagulhas sós e expostas,
minhas? não, nossas
de quando meu corpo se entrelaçava ao seu
e todo cantar era um atrevimento surdo na multidão dos anos.
Cada linha da poesia era um poro da minha pele que anseia por sua chegada.
Quando vens sobre plumas e o céu ora a ti.
Vens em transparência nua como a mim a te encontrar.
Te encontrar no altar dos versos onde minha língua paralisa
e todos versos que ela poderia elevar a ti se calam.
Minha dor é um adorno a mais
que implora por minha pulsação.
Desça do mundo tão quieto e sem atitude!
Tenha uma nova pátria de versos incansáveis e infinitos.
Não se assuste com o silêncio que é o apogeu da poesia.
O poeta cala e espera a ti,
é a ilusão do que está certo nos papéis tingidos por estas mãos magras
e é a ilusão do que me mantinha preso a nossa imaginação, do nosso sonho de uma amor.
Se quiseres podes usar desta tinta,
podes me usar, me amar!