Ruas e suas lâminas

Que ar frio e envolvente
que passa por mim na minha carne quente.
Que noite movimentada e social
que homens e mulheres vivem sobre sua existência.

Homens e mulheres dormindo no chão.
Homens e mulheres se beijando nas mesas de bares.
Adolescentes cheirando cocaína nos passeios
e passam pela vida sem viver a realidade deles,
findam suas vidas e sentidos pouco a pouco.

As praças movimentadas de pessoas e estações
a pessoa só - estação fria e a companhia - estação quente.
Raul Soares central da cidade,
caminhos para todos os cantos de Belo Horizonte.
Homens e homens se beijando.
Mulheres e mulheres se beijando.
Homens e mulheres se beijando.
Raul Soares central da diversidade, da humanidade.

A liberdade vive na história.
Se gato tem sete vidas
a noite tem sete estações, sete dias na semana.
E a noite comemora sua independência.
Praça Sete, Liberdade e Estação.
O Papa fica em Roma.

Os corpos se aconchegam no chão
ou apenas tentam confortarem se durante a noite,
eles abraçam o frio das ruas todas as noites
e fazem desta companhia a estação fria e quente
que cabem e são possíveis por suas mãos.

Jovens sugando farinha,
o pó de suas desgraças
e são poucos os que levantam de tantas desgraças.
Sugam a morte com um sorriso de gozo,
com um sorriso imaginário
que não pertence a felicidade de suas vidas
mas sim ao escapamento de si mesmos.

Minha carne quente é tocada por palavras de gelo
da fome, da ausência de um lar,
da má educação que abre portas aos preconceitos,
do desconhecimento das pessoas sobre si mesmas,
da violência entre um casal em uma esquina,
da vida e da morte.
Sete lâminas cortam a noite.
Sete gelos se congelam por toda noite, vida.