Capa - Sarau

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Sarau Equinócio de outono

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Conto


Venha tristeza como uma flecha na noite extinta de estrelas
senta no meu colo caloroso que alguém deixou aquecido para outro corpo
se preparou o tempo e o assento para outra ilusão ou chacina de algum sentimento que vive em mim ainda.

Pode chegar e até me abraçar e vasculhar dentro de mim algo que não seja oco
que não seja vaco como o espaço
que compartilhe outros átomos fora da minha aparência
que me faça diferente deste ser que sou e que me apresento aos outros mortais
que mergulhe em sangue quente como um gelo inato e inabalável
que me rastreie em pensamentos longínquos de ser homem com corpo a entrelaçar em outro.

Ofereça para mim sua carne macia, cheirosa e formidável
sua pele suada com pelos, com sinais de excitações e canções
seu órgão como alimento único da minha dieta de ser homem e o homem que é escravizado pelos seus desejos carnais,
seu líquido a matar minha sede, minha busca e minha volúpia que é este calor que nos incendeia que deixa minha garganta seca e faz minha boca quente produzir saliva para  enganar minha sede que se entrelaça a você
seus sussurros mais esplêndidos que o oásis, mais altos que as notas líricas, mais aclamador do meu corpo do que uma pintura
sua face a transpirar no meu pescoço, na minha face, no meu peito que bate tão inquieto por ti
seu corpo, apenas seu corpo junto ao meu num leito que é nossa morada.

Venha tristeza que te peço aquecimento e entrelaçamento agora,
tua presença é saber que quando tu se for e não ligar mais para mim e será a sua ausência que se configurará este adjetivo de tristeza
ausência de amor ou paixão ou troca é tristeza
mas agora me estupre, me usurpe, me camufle na sua carne no seu corpo nos seus pelos
num último beijo diga num suspiro no meu pescoço o que vai me ilusionar a uma continuação deste conto amoroso e luxúrico que busco em ti.

3 comentários:

  1. Poesia muito profunda. Conhecer a tristeza é um hábito. Ela sempre virá, em formas diferentes, de maneiras diferentes...
    Bonitas palavras!
    Um grande abraço.

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  2. Linda poesia meu caro... e que a tristeza seja permitida, da mesma forma que a alegria... Não devemos ter vergonha de nossos sentimentos!

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