Hoje, ouvi meu câncer
O senti remoendo minhas células
Desconfigurando minha existência
Apodrecendo minha alma inerte
Interrompendo por um instante minha vida
Pensar nele, me fez morrer
Parecia extinguir o poeta que aprisiono em mim
Dentro de mim uma canção alceada me calou
Um voo editado da ilusão vital
Minha palavra ficou suspensa na minha dor
Meus sentimentos caíram juntos aos meus cabelos
E evoluíram a cada falência capilar
Hoje, consigo ser amante do meu câncer
Amante da poesia e da música
Amante de bons amigos
Amante das surpresas do destino
Amante de cada equação química do meu organismo
Amo sim o meu câncer
Amo todo o amor que me habitou e me mantem
Meu câncer gritou enlouquecido nessa manhã
Zureta sensação de poder morrer
De poder experimentar a morte
E de atribui a ela um aviso do destino
Esse foi o câncer que gritou e cantou em mim
Hoje, me encaixei a raça humana
A um animal pousado no mundo
Como um cavalo correndo para a vida
Cavalguei sobre mim
Pisei bem forte nas minhas costas
Pisei em todos para ver a dor
Senti e causar a dor
Para ser um câncer no mundo
Eu sou o câncer poético
Naufragado nas linhas de meus monólogos
Me prolongo a eternidade na poesia
Que a poesia emende minha alma
A ponte das minhas palavras na escuridão
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